Entre o Fascínio e a Ruína: Por Que Insistimos em Ficar?
Há algo no comportamento humano que insiste em nos atrair para o perigo disfarçado de beleza. O exemplo mais emblemático talvez seja o das antigas cidades construídas aos pés do Monte Vesúvio. Mesmo cientes da ameaça constante, milhares de pessoas escolheram viver ali. Permaneceram, porque as flores eram mais vivas, a vegetação mais exuberante, e o solo incrivelmente fértil. A vida parecia florescer de forma única ao redor daquele vulcão. Por um tempo, de fato, floresceu. Até que um dia, como já se sabia, o Vesúvio explodiu e destruiu tudo ao seu redor.
Ao longo do tempo, aprendemos a romantizar essa história. Passamos a enxergar uma certa beleza em viver perto do que pode nos machucar. Repetimos a ideia de que tudo que é intenso precisa, de alguma forma, carregar um risco. Transformamos o sofrimento em uma espécie de prova de valor. Como se fosse mais digno permanecer onde há perigo, simplesmente porque ali, durante algum tempo, as flores cresciam mais bonitas.
Contudo, defender essa lógica é extremamente perigoso. Por mais poética que pareça, ela sustenta e normaliza ciclos destrutivos. É justamente esse tipo de pensamento que nos prende em relacionamentos tóxicos, em amizades que nos esgotam, em ambientes que adoecem. Nos ensinamos a ficar perto de quem nos ameaça emocionalmente, convencidos de que a beleza do momento justifica o potencial da dor. É um raciocínio que mascara o sofrimento e o transforma em algo aceitável, quase admirável.
Muitas vezes, quem permanece acredita que está escolhendo a profundidade, a intensidade. Mas o que está, na prática, escolhendo é a possibilidade real da destruição. É como caminhar diariamente sobre um solo que pode ruir a qualquer instante, e achar que isso é a definição de uma vida vivida plenamente.
O amor é algo delicado? — É áspero demais, grosseiro demais, violento demais; e fere como um espinho.”
— Romeu e Julieta, William Shakespeare
O mais preocupante é que esse tipo de escolha pode custar caro. Alimentar vínculos que oferecem mais risco do que cuidado pode levar a consequências graves, como crises de ansiedade, depressão, baixa autoestima e outros danos profundos à saúde mental. É um preço que não deveria ser normalizado, muito menos romantizado.
Não podemos continuar ensinando as pessoas que o sofrimento é uma condição para viver algo bonito. Não devemos seguir repetindo que flores só nascem perto do perigo. Essa é uma visão limitada e, muitas vezes, irresponsável. A verdade é que a paz também pode ser bonita. O amor também pode ser seguro. O afeto pode ser calmo e, ainda assim, cheio de profundidade.
Acreditar que a beleza só existe onde há risco é o que mantém muita gente presa em lugares que já mostraram que vão machucar.
Precisamos aprender a valorizar os espaços onde podemos simplesmente crescer, sem medo de sermos soterrados. Porque a vida não precisa ser uma constante fuga da próxima erupção. Ela pode, sim, ser um jardim tranquilo, onde as flores nascem e permanecem. Onde a beleza, enfim, é também um lugar seguro.